domingo, 21 de abril de 2013

Intensidade e interrelação de rotas

Agora que já vimos como ocorre a liberação energética e os sistemas responsáveis por esta função,  interessa-nos saber como estes sistemas se interrelacionam ao longo de uma situação de exercício, onde há uma demanda energética elevada. Na década de 50, Keul começava os estudos a respeito de como ocorre a liberação de energia em diferentes atividades. A partir disso, foi criado o gráfico abaixo, que envolve o percentual da liberação de energia em relação ao logarítimo de tempo em diferentes provas atléticas. 



Para melhor entendermos o gráfico precisamos ter dois conceitos já estabelecidos: compreender as intensidades, a intensidade absoluta e a intensidade relativa. A primeira vai trabalhar com velocidade, potência, tempo e força, expressando sempre uma variável física que vai reger uma intensidade absoluta. Já a intensidade relativa é relativa a capacidade máxima de trabalho do indivíduo, expressada em percentagem do máximo.
Entendendo isso, podemos dizer que ao aumentarmos o tempo de duração diminuímos a intensidade, ou seja, próximo a 10s o sistema predominante é a ATP-CP (creatinafosfato). Por volta dos 40s usamos predominantemente a glicólise e assim por diante. Lembrando que sempre devemos analisar o gráfico direto no ponto de duração do exercício e não progressivamente.
Notemos que este gráfico limita muito nossa capacidade analítica por tratar aeróbio como um único sistema. Costil, um pesquisador norte americano, elaborou o mesmo trabalho, no entanto olhando somente para o sistema aeróbio (lembrando que a maneira analítica de energia deve ser vista sempre com 100%). Observamos o gráfico abaixo:


Quando trabalhando somente com o sistema aeróbio os tempos se tornam mais longos, na faixa dos minutos. Partindo, no entanto, com a mesma lógica: 10min predominantemente sistema glicolítico, 20min equiparação entre sistema lipídico e glicolítico e 30min predominantemente sistema lipídico. Assim podemos ver que a expressão "somente queimamos gordura após 30min", muito dito em academias, é um enorme equívoco bioquímico, que ainda sim é repetido por muitos da área da educação física. E que, pelo contrário, estamos queimando gordura desde o início do exercício. 

Tentando entender esta interrelação de rotas, cabe a nós darmos exemplos plausíveis do mesmo. Como já vimos, o sistema lipolítico vai descrever como são formadas as gorduras, principalmente nas células do fígado. Isso ocorre quando um dos dois sistemas de macronutrientes (proteico ou glicolítico) ingeridos e não usados para sustentar o metabolismo energético são transformados em triglicerídeos. A lipogênese vai ser gerada a partir de carbonos oriundos da glicose e esqueletos de carbono dos aminoácidos metabolizados para a molécula de AcCoA (ver em postagens anteriores sua função). A junção das células hepáticas com o acetato dessa molécula vão, depois de uma série de etapas, formar os ácidos graxos saturados. Posteriormente no citosol ou nas mitocôndrias há o aumento do comprimento molecular, de 16 para 18 a 20 carbonos. A junção de três ácidos graxos a uma molécula de glicerol formará o triglicerídeo, que posteriormente a ser lançado no sangue vai ser usado para obtenção de ATP ou ser depositado no adipócitos. Isso mostra a interrelação lipolítica-glicolítica.

A conversão das proteínas em gorduras é decorrente do excesso da mesma. Os aminoácidos que forem absorvidos pelo intestino delgado são transportados pela circulação até o fígado e após esse processo são transformados em piruvatos pelo processo denominado desaminação. A partir disso essa molécula, que agora tem 6 carbonos vai para dentro da mitocondrial sendo transformada em AcCoA, ou pelo ciclo de krebs ou pela síntese de ácido graxos.

Por fim, a Gordura como sendo usada como fonte de energia através do bom funcionamento do sistema glicolítico. Isso se deve pois a quebra de ácidos graxos é fruto de um bom funcionamento do metabolismo dos carboidratos, pois como já vimos, a AcCoA penetra no ciclo de krebs combinando-se com o oxaloacetato para a formação de citrato. Essa molécula de oxaloacetato, por sua vez, vai ser regenerada  pelo piruvato durante a quebra dos carboidratos, esse procedimento é decorrente do controle enzimático da piruvato carboxilase que vai acrescentar a carboxila (OOH) ao piruvato. A quebra de ácidos graxos no ciclo de krebs dará continuidade somente quando houver oxaloacetato e outros produtos oriundos da quebra dos carboidratos combinar com AcCoA que é formado durante ao processo denominado beta-oxidação. O piruvato que é formado no metabolismo glicolítico tem função muito importante, visto que é responsável pela manutenção de bons níveis de oxaloacetato. Logo, podemos tirar como conclusão que tendo baixa produção pirúvica teremos redução dos intermédios do ciclo de krebs que, consequentemente, deixará-o mais lento e prejudicará a quebre das gorduras.   










Controle motor

Nesta semana falamos do controle motor, mas afinal como entender o controle motor? Inicialmente devemos compreender que uma unidade motora é formada por um motoneurônio  e todas as células por ele inervadas e que o mesmo vai depender de um sistema superior que terá a função de emitir estímulos até chegar no músculo, para que assim o músculo responda com sinais sensoriais. Observando a imagem abaixo para termos mais facilidade no entendimento, notamos que  transferências de potencias de ação partindo do córtex sensório motor (área pré-motora) passarão pelo córtex motor, chegando aos gânglios da base, tronco encefálico, medula e finalmente ao músculo. Por sua vez, o músculo será responsável por retornar informações sensoriais, estas serão transmitidas para a medula, tronco encefálico e cerebelo, retornando ao córtex sensório-motor. O que observamos é que é emitido uma "ordem" motora a partir do C.S MOTOR chegando até o músculo, onde a ação é efetuada. A resposta do músculo em enviar informações sensoriais ao C.S MOTOR é para que possa haver possíveis correções entre a "ordem" motora e ação efetuada. 
Podemos classificar os mecanismos de resposta em três classes distintas, de acordo com o nível em que ocorre, são eles: Voluntário, automático ao nível do córtex e involuntário ao nível de medula.

VOLUNTÁRIO: O movimento voluntário é aquele que é feito pelo indivíduo de forma controlada e pensada, ou seja, ele parte da área do córtex sensório-motor, onde há o planejamento do gesto. Exemplos de movimentos voluntários: lançar uma bola, correr, subir escadas. Devido à repetição de certos movimentos, desde nossa infância, acabamos por ter padrões de movimentos que depois de estabelecidos não podem ser mudados. A repetição e a internalização do gesto/ação gera  uma programação, e a essa programação damos o nome de ENGRAMA. O engrama é um elemento que não pode ser modificado, porém podemos criar um engrama que se sobre saia ao anterior, ou seja, criamos um caricatura sobre uma base motora já padronizada. Para entendimento maior, colocamos a situação de um menino que aprendeu a escrever e que depois, ao chegar no ensino médio, resolve mudar sua letra/caligrafia. Obviamente que após planejar muitas vezes até programar o novo gesto ele conseguirá, porém a base para essa caricatura foi seu engrama inicial, que pode ser retomado quando haver qualquer descuido do gesto. Os engramas que carregamos junto conosco desde cedo são: falar, escrever, caminhar. Isso representa o controle motor voluntário e automático.

INVOLUNTÁRIO: O controle motor involuntário - decorrente do tronco encefálico e suas estruturas inferiores - é completamente diferente do voluntário/automático, porque é gerado por estímulos no "H" medular que, por sua vez, vão gerar três tipos de reflexos, são eles: miotático, miotático inverso e o flexor ou de retirada.  O reflexo miotático ativa o fuso muscular (fibra muscular modificada - intrafusal - colocado entre células musculares - extrafusais) que emite uma fibra neural tipo Ia até o "H" medular fazendo sinapse com apenas um neurônio (esse reflexo é o único monossináptico). O fuso tem função de proporcionar informações mecanorreceptoras sobre o comprimento e a tensão das fibras musculares proporcionando uma resposta reflexa ao estiramento com o intuito de contrabalançar o estiramento.

Exemplos de reflexos miotáticos: teste do reflexo patelar na qual ocorre a percussão no tendão patelar com um martelo de borracha. Isso é suficiente para deformar o tendão e gerar um estiramento do quadríceps que, por conseguinte, ativa o fuso fazendo com que o quadríceps acabe gerando um leve "chute". Esse teste é usado para avaliar o tônus muscular.
 Outro exemplo muito simples e cotidiano é simples ato da manutenção postural. O reflexo é ativado no momento em que se estira a musculatura para aumentar o equilíbrio, isso acarreta no aumento da tonicidade muscular que, consequentemente, juntamente com o estiramento da musculatura ativa o reflexo miotático. 
Por fim, como último exemplo de reflexo miotático e agora relacionado com treinamento, temos a pliometria (saltos; distância) que tem como princípio os saltos de uma posição com certo grau de elevação para aterrizagem em extensão, amortecendo todo impacto para logo em seguida estirar a musculatura e disparar voluntariamente um salto. Esse princípio utiliza dos dois reflexos (voluntário e involuntário), porém exigindo muito mais do involuntário e, por isso, gerando ganhos de potência muscular.
No reflexo miotático inverso temos como órgão sensorial o OTG - órgão tendinoso de Golgi - que é uma terminação nervosa livre e incapsulada, colocado em série nas fibras tendíneas. Por se localizar nos tendões e se posicionar em série não consegue verificar variação no comprimento muscular, porém determina níveis de tensão. Isso se faz muito válido quando há tensão excessiva e não há variação de comprimento muscular, como por exemplo na contração isométrica, em que o reflexo miotático inverso é o meio de proteção.


O OTG emite uma fibra até o "H" medular que, por sua vez, faz duas sinapses com dois interneurônios, estes vão ativar dois motoneurônios (sendo um inibitório e o outro excitatório). Um destes dois motoneurônios vai ativar  a musculatura agonista e o outro a antagonista. Aumentando a tensão nesta musculatura o OTG vai gerar um determinado potencial de ação que vai agir no "H" medular ativando os dois motoneurônios. O excitatório vai excitar justamento o músculo antagonista, o que dá maior entendimento de porque chamamos este reflexo miotático de inverso. Ao contrário do reflexo miotático que gera a excitação do músculo agonista, o reflexo miotático vai gerar a excitação do antagonista e isso é um mecanismo de proteção. Citamos como exemplo a manutenção de uma postura onde há demasiada contração muscular, podendo haver rompimento de fibra muscular. O reflexo miotático inverso é o principal e único responsável pela verificação dessa possível situação e, portanto da da excitação antagonista que, por sua vez, gera a diminuição de força até o relaxamento da musculatura agonista ativa.Como exemplo prático podemos citar o esporte luta de braço, que por reflexo miotático inverso leva a rápida ação da diminuição da força imposta para ganhar do adversário. 


No reflexo denominado flexor ou de retirada - nociceptivo - é representado por uma terminação nervosa livre subcutânea. Podemos representá-lo por uma qualquer objeto que agrida a pele (taxinha, prego, cigarro, fogo) . Ao pisar em um determinado objeto lesivo o indivíduo ativa essas terminações nervosas subcutâneas que desencadeiam um potencial de ação. Esse potencial de ação chega até o "H" medular. No "H" medular ele faz sinapse com dois interneurônios de um lado do "H" medular, porém emite uma fibra para o outro lado do "H" medular  fazendo sinapse com outros dois interneurônios. Então o mesmo estímulo vai ativar 4 interneurônios no "H" medular, quando eles fizerem sinapse com motoneurônios. De um lado do "H" medular temos a excitação da musculatura flexora e a inibição da extensora. Do outro lado, temos justamente o inverso: a excitação da musculatura extensora e inibição da musculatura flexora. O que isso vai gerar? Ao pisarmos no objeto lesivo todo o processo irá ocorrer, indo potencial de ação ao "H" medular e os interneurônios fazendo sinapses com os motoneurônios a ponto de gerar a flexão da perna que foi lesada e a extensão.


ALONGAMENTO

Relacionando estes três modelos de reflexos com o alongamento, podemos ver que eles se fazem presentes de diferentes maneiras. O alongamento é utilizado para treinamento de flexibilidade, para relaxamento muscular e para aquecimento. Essas são as principais utilizações do alongamento. Podemos identificar a intensidade do alongamento de acordo com o grau de conforto e o grau de dor imposto pelo mesmo.

Classificamos as técnicas de alongamento em:

  • Alongamento estático (reflexo miotático e miotático inverso)
  • Alongamento balístico - com insistência - (reflexo miotático)
  • Alongamento F.N.P - facilitação neuromuscular proprioceptiva - (inibição do reflexo miotático e potencialização do reflexo miotático inverso)
Para o treinamento de flexibilidade utiliza-se as três técnicas. Analisando flexibilidade (valência física) temos que ressaltar: mobilidade articular, elasticidade muscular, massa adiposa/muscular, elasticidade da pele.

* Mobilidade articular é treinável, enquanto crianças, pois ainda não temos a maturação ósseas, mas lembrando sempre que isso pode gerar lesões, pois aumenta a instabilidade articular.
* Elasticidade muscular tem relação com a quantidade de sarcômeros, porém somente os  que se localizam em série, tamanho da miofibrila (quanto maior, mais elasticidade), isso gera maior elasticidade.


Para o relaxamento muscular utilizamos do alongamento estático e para o aquecimento utilizamos do alongamento estático e balístico. 



















                                                 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Análise: Muito além do peso



O documentário Muito Além do Peso, nos mostra de maneira enfática e, muitas vezes, chocante,  como a epidemia de obesidade infantil está afetando as novas gerações. Crianças apresentam desde muito novas sintomas de doenças que, anos atrás se manifestavam apenas em adultos.
Nas primeiras cenas somos apresentados a Yan, de apenas 4 anos, que já apresenta problemas de pulmão e coração consequentes da obesidade. Em seguida, o chefe de cozinha Jamie Oliver traz dados estatísticos sobre as principais causas de morte nos Estado Unidos. O espanto surge quando vemos que as maiores taxas de mortalidade decorrem de doenças cardíacas, cânceres e derrames, relacionados com a dieta e obesidade. A partir de então somos expostos à realidade de diferentes famílias que também enfrentam a obesidade infantil e as doenças por ela causada, como o diabetes, pressão alta, entre outros. Médicos e especialistas também discorrem sobre a origem, a causa e os diferentes problemas que surgem em decorrência da obesidade infantil.
A publicidade surge ao longo do filme como um grande vilão. Pois é a partir da divulgação dos produtos que é despertada nas crianças a vontade de consumi-los, mesmo não trazendo nenhum benefício para a saúde. A quantidade de açúcar presente nos produtos industrializados como refrigerantes, bebidas lácteas, sucos em pó e biscoitos tornam o consumo de açúcar extremamente excessivo. E este consumo resulta em milhões de mortes por ano no mundo. Os maus hábitos alimentares das crianças, que insistem pelos salgadinhos, fast-foods (junk-foods) e outras comidas que aparentam ser mais gostosas está trazendo problemas como o colesterol alto e pressão alta para a realidade dessas crianças. Quem sofre no final é a família, e a sociedade vê números alarmantes crescerem nas estatísticas.
Como estudantes de Educação Física e futuros professores, cabe a nós levarmos para o ambiente escolar ou onde mantivermos contato com crianças, os bons hábitos alimentares, ressaltando a importância de uma boa alimentação e os problemas que a alimentação ruim acarreta. Fazendo com que eles decidam por si só de escolherem uma fruta ao invés de doces, um belo prato de arroz com feijão no lugar de fast-foods e sucos naturais a refrigerantes. Tudo isso junto com a prática de atividades físicas ajudará a diminuir a epidemia de obesidade infantil. Ainda há tempo.