Agora que já vimos como ocorre a liberação energética e os sistemas responsáveis por esta função, interessa-nos saber como estes sistemas se interrelacionam ao longo de uma situação de exercício, onde há uma demanda energética elevada. Na década de 50, Keul começava os estudos a respeito de como ocorre a liberação de energia em diferentes atividades. A partir disso, foi criado o gráfico abaixo, que envolve o percentual da liberação de energia em relação ao logarítimo de tempo em diferentes provas atléticas.
Para melhor entendermos o gráfico precisamos ter dois conceitos já estabelecidos: compreender as intensidades, a intensidade absoluta e a intensidade relativa. A primeira vai trabalhar com velocidade, potência, tempo e força, expressando sempre uma variável física que vai reger uma intensidade absoluta. Já a intensidade relativa é relativa a capacidade máxima de trabalho do indivíduo, expressada em percentagem do máximo.
Entendendo isso, podemos dizer que ao aumentarmos o tempo de duração diminuímos a intensidade, ou seja, próximo a 10s o sistema predominante é a ATP-CP (creatinafosfato). Por volta dos 40s usamos predominantemente a glicólise e assim por diante. Lembrando que sempre devemos analisar o gráfico direto no ponto de duração do exercício e não progressivamente.
Notemos que este gráfico limita muito nossa capacidade analítica por tratar aeróbio como um único sistema. Costil, um pesquisador norte americano, elaborou o mesmo trabalho, no entanto olhando somente para o sistema aeróbio (lembrando que a maneira analítica de energia deve ser vista sempre com 100%). Observamos o gráfico abaixo:
Quando trabalhando somente com o sistema aeróbio os tempos se tornam mais longos, na faixa dos minutos. Partindo, no entanto, com a mesma lógica: 10min predominantemente sistema glicolítico, 20min equiparação entre sistema lipídico e glicolítico e 30min predominantemente sistema lipídico. Assim podemos ver que a expressão "somente queimamos gordura após 30min", muito dito em academias, é um enorme equívoco bioquímico, que ainda sim é repetido por muitos da área da educação física. E que, pelo contrário, estamos queimando gordura desde o início do exercício.
Tentando entender esta interrelação de rotas, cabe a nós darmos exemplos plausíveis do mesmo. Como já vimos, o sistema lipolítico vai descrever como são formadas as gorduras, principalmente nas células do fígado. Isso ocorre quando um dos dois sistemas de macronutrientes (proteico ou glicolítico) ingeridos e não usados para sustentar o metabolismo energético são transformados em triglicerídeos. A lipogênese vai ser gerada a partir de carbonos oriundos da glicose e esqueletos de carbono dos aminoácidos metabolizados para a molécula de AcCoA (ver em postagens anteriores sua função). A junção das células hepáticas com o acetato dessa molécula vão, depois de uma série de etapas, formar os ácidos graxos saturados. Posteriormente no citosol ou nas mitocôndrias há o aumento do comprimento molecular, de 16 para 18 a 20 carbonos. A junção de três ácidos graxos a uma molécula de glicerol formará o triglicerídeo, que posteriormente a ser lançado no sangue vai ser usado para obtenção de ATP ou ser depositado no adipócitos. Isso mostra a interrelação lipolítica-glicolítica.
A conversão das proteínas em gorduras é decorrente do excesso da mesma. Os aminoácidos que forem absorvidos pelo intestino delgado são transportados pela circulação até o fígado e após esse processo são transformados em piruvatos pelo processo denominado desaminação. A partir disso essa molécula, que agora tem 6 carbonos vai para dentro da mitocondrial sendo transformada em AcCoA, ou pelo ciclo de krebs ou pela síntese de ácido graxos.
Por fim, a Gordura como sendo usada como fonte de energia através do bom funcionamento do sistema glicolítico. Isso se deve pois a quebra de ácidos graxos é fruto de um bom funcionamento do metabolismo dos carboidratos, pois como já vimos, a AcCoA penetra no ciclo de krebs combinando-se com o oxaloacetato para a formação de citrato. Essa molécula de oxaloacetato, por sua vez, vai ser regenerada pelo piruvato durante a quebra dos carboidratos, esse procedimento é decorrente do controle enzimático da piruvato carboxilase que vai acrescentar a carboxila (OOH) ao piruvato. A quebra de ácidos graxos no ciclo de krebs dará continuidade somente quando houver oxaloacetato e outros produtos oriundos da quebra dos carboidratos combinar com AcCoA que é formado durante ao processo denominado beta-oxidação. O piruvato que é formado no metabolismo glicolítico tem função muito importante, visto que é responsável pela manutenção de bons níveis de oxaloacetato. Logo, podemos tirar como conclusão que tendo baixa produção pirúvica teremos redução dos intermédios do ciclo de krebs que, consequentemente, deixará-o mais lento e prejudicará a quebre das gorduras.
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