domingo, 16 de junho de 2013

Hipófise, Hipotálamo e Exercício


O controle de todas as funções do corpo humano está relacionado com o sistema nervoso e com o sistema endócrino. A responsabilidade do sistema nervoso consiste em obter as informações do meio externo e controlar as atividades corporais, além de realizar a integração entre essas ações e armazenar essas informações (memória). As respostas aos estímulos recebidos do ambiente externo, ou interno são controladas de 3 formas importantes, que são: contração dos músculos esqueléticos do corpo; contração da musculatura lisa dos órgãos internos; e secreção de hormônios pelas glândulas endócrinas em todo o corpo. O funcionamento entre a elaboração da resposta pelo snc (sistema nevoso central) e o início do processo de resposta pelo órgão-alvo (célula-alvo) é intermediado pelos hormônios. Diante desta sistemática, considera-se o sistema hormonal outro grande controlador das funções corporais (Guyton e Hall, 1997).

Para conseguirmos visualizar esse sistema, ilustramos da seguinte forma:



Ok, mas o que é um hormônio?
É uma substância química secretada por células específicas (glândulas) para o sangue, ou órgãos e que provocam uma resposta fisiológica em outras células específicas. É regulador químico, o qual pode acelerar ou reduzir a velocidade de reações e funções biológicas no corpo humano. Podem ser aminoácidos, peptídeos, polipeptídeos, protéicos, ou não-proteicos (Berne e Levy, 1996).

As glândulas podem ser classificadas como:
Endócrinas:  são aquelas que não possuem ductos secretores; a forma de secreção incide diretamente das substâncias para o interior dos espaços extracelulares que estão ao redor da glândula. A partir disso, os hormônios seguem para o sangue, de onde serão transportados para a totalidade do organismo (Guyton e Hall, 1997).
Exócrinas: o oposto das endócrinas, estas possuem ductos secretores, responsáveis pelo transporte do material que deverá ser secretado para fora do organismo. Glândulas exócrinas como as sudoríparas e as lacrimais secretam substâncias que não podem ser consideradas hormônios, por não atuarem em células específicas (Guyton e Hall, 1997).

A partir do conhecimento das classificações das glândulas, conheceremos agora a hipófise, também chamada de glândula pituitária, que divide-se em 2 partes: a hipófise anterior (adeno-hipófise), e a hipófise posterior (neuro-hipófise). Ela localiza-se na base central do cérebro a qual é extremamente protegida pela calota craniana. Essa glândula é controlada por uma porção mais superior chamada hipotálamo, a qual secreta hormônios específicos para estimular a produção de hormônios pela hipófise (Berne e Levy, 1996).
A hipófise anterior, também chamada de glândula mestre, possui função vital no sistema endócrino por ser a glândula responsável pela secreção de 6 hormônios importantíssimos que são: hormônio do crescimento, hormônio folículo estimulante, a adrenocorticotropina, hormônio luteinizante, hormônio tíreo-estimulante e a prolactina. Já na hipófise posterior, são armazenados e liberados os hormônios vasopressina (ADH – hormônio antidiurético) e a oxitocina (Berne e Levy, 1996).

A seguir estudaremos a funcionalidade de cada um deles e sua influência no exercício físico.

Hormônios hipotálamo-hipofisários e suas ações em orgãos alvos.
Hormônio do crescimento (GH)
O hormônio do crescimento humano, também chamado de somatotropina, é liberado e controlado por um hormônio hipotalâmico, o GHRH (hormônio liberador do hormônio do crescimento). Segundo BERNE e LEVY (1996), GUYTON e HALL (1997) suas principais funções são: aumento de captação de aminoácidos e da síntese protéica pelas células e redução da quebra das proteínas; acentuação da utilização de lipídios e diminuição da utilização de glicose para obtenção de energia; estimulação da reprodução celular (crescimento tecidual); e estimulação do crescimento da cartilagem e do osso. É sabido que, com o exercício, a liberação de GH é estimulada. Além disso, a quantidade deste hormônio liberada é tanto maior quanto mais intenso for o exercício. O mecanismo pelo qual isso ocorre é que o exercício estimula a produção de opiáceos endógenos, que inibem a produção de somatostatina pelo fígado, um hormônio que reduz a liberação de GH. Durante o sono, a secreção de GH também é aumentada, porém, o nível de treinamento não tem relação com a intensidade desse aumento.
É importante ressaltar que esse hormônio só pode cumprir a sua função adequadamente quando acompanhada de uma dieta rica em proteínas (Berne e Levy, 1996). Em crianças, uma hipersecreção de GH pode provocar gigantismo, enquanto a hipossecreção pode causar nanismo. Uma criança ativa, portanto, tem mais tendência a atingir uma altura maior do que outra sedentária, desde que essa vida ativa seja acompanhada de uma dieta adequada. É, inclusive, aconselhável a crianças que apresentem nanismo que se estimule-as a dormirem e a exercitarem-se.
O GH é utilizado freqüentemente como agente ergogênico exógeno, principalmente nos atletas que praticam modalidades que necessitem mais força, como lutadores e velocistas. Problemas referentes à sua utilização, por exemplo a acromegalia, que acontece em adultos com hipersecreção (ou administração exagerada do exógeno), é caracterizada por um crescimento demasiado dos ossos em espessura, pois na idade adulta as epífises já fundiram-se com as diáfises ósseas e os ossos não podem mais crescer em comprimento. Também é atribuída ao uso exagerado do GH a causa de casos de morte súbita por parada cardíaca em atletas (Berne e Levy, 1996; Guyton e Hall, 1997).

Hormônio tíreo-estimulante (TSH)
O TSH (hormônio tíreo-estimulante) controla o grau de absorção de iodo pela glândula tireóide e, com isso, a secreção de seus hormônios, a tiroxina (T4) e a triodotironina (T3). A tireóide fica localizada na face anterior da região cervical, no seu terço médio, próxima à traquéia. Essa glândula pesa aproximadamente 20 g, e sua atuação é controlada pela ação do TSH (Guyton e Hall, 1997).
De uma maneira geral, o TSH faz aumentar o metabolismo do indivíduo (Guyton e Hall, 1997), e é observado, por exemplo, que em climas frios, a taxa de metabolismo basal, estimulada por níveis aumentados de TSH, aumenta de 15 a 20% acima da normal. O efeito do exercício sobre a sua liberação é de aumentá-la, embora não se saiba como esse mecanismo funciona. Apesar de a temperatura corporal aumentar com o exercício - e sabemos que o frio estimula o aumento do metabolismo corporal através da secreção de TSH - os níveis deste hormônio sobem também com o exercício, talvez como meio de o corpo aumentar o seu metabolismo, adaptação necessária para as maiores necessidades quando o corpo está em atividade (Guyton e Hall, 1997).

Adrenocorticotropina (ACTH)
O ACTH possui a função de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol. O exercício estimula a liberação de ACTH. Inclusive aceita-se que a regulação da liberação deste hormônio se dá com o ritmo circadiano: um dos maiores estímulos é a transição entre os estados sono-vigília. A sua liberação é determinada pelo CRH, também conhecido como hormônio de liberação do ACTH ou fator hipotalâmico de liberação da corticotropina. Os maiores picos de secreção de todo o dia acontecem cerca de seis horas depois de a pessoa adormecer. Além disso, vários outros fatores estimulam sua produção, como aumentos cíclicos naturais, diminuição do cortisol (o “feedback” negativo deste hormônio), estresse físico, ansiedade, depressão e altos níveis de acetilcolina. Por outro lado, existem vários fatores inibitórios, como as encefalinas, os opióides e a somatostatina, por exemplo (Guyton e Hall, 1997).

O hormônio folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH)
O FSH é responsável por provocar o crescimento dos folículos e a produção de estrogênio nos ovários, sendo que, nos homens, ele estimula o desenvolvimento dos espermatozóides (espermatogênese) dentro dos testículos. Nas mulheres, baixas taxas de FSH estimulam a produção de estrogênio, enquanto altas taxas a inibem (Berne e Levy, 1996).
Além do FSH, existe o hormônio luteinizante (LH) que é responsável por promover a secreção de estrogênio e progesterona, além da ruptura do folículo, ocasionando a liberação do óvulo, na mulher. Com isso, fica evidente que esses hormônios têm uma relação clara com o ciclo menstrual. No homem, o LH causa a secreção de testosterona pelos testículos (Berne e Levy, 1996). Em relação ao exercício, os estudos referentes a alterações em níveis de liberação de desses hormônios são inconsistentes e são em várias ocasiões confundidos com a natureza pulsátil desses hormônios. Como o LH é liberado em intervalos de 90 a 110 minutos, fica difícil separar mudanças induzidas pelo exercício daquelas causadas por causa da pulsação endógena. Há também confusão na tentativa de separar a influência de ansiedade, que pode tanto baixar quanto aumentar os níveis LH.
Segundo BERNE e LEVY (1996), o exercício praticado regularmente, no entanto, pode levar a aberrações menstruais. Sabe-se que mulheres atletas têm uma propensão de 10 a 20% a esse tipo de problema, ao passo que, em não-atletas, esse número baixa para 5%. Embora seja muito difícil precisar os motivos para isso, um programa de exercício que dure algum tempo (de semanas, meses ou mais tempo) normalmente vem acompanhado de uma perda de gordura corporal, e um nível de gordura baixo pode causar amenorréia (ausência de menstruação) ou oligomenorréia (menstruação em intervalos maiores que o normal).

Prolactina (PRL)
Sua responsabilidade consiste na estimulação do desenvolvimento das mamas e produção de leite. É produzida naturalmente e não necessita de estímulo para isso. Sua regulação funciona através da atuação do fator hipotalâmico inibidor de prolactina, que diminui a sua secreção. A prolactina (PRL) também inibe a testosterona e mobiliza os ácidos graxos, mas com os objetivos de, antes da gravidez, promover a proliferação e a ramificação dos ductos da mama feminina; durante a gravidez, causa o desenvolvimento dos lóbulos dos alvéolos produtores de leite e, após o parto, a prolactina estimula a síntese e a secreção de leite (Berne e Levy, 1996).
Com o exercício, os níveis de PRL se elevam. Como sua meia vida é bastante curta (aproximadamente 10 minutos), seus níveis costumam baixar aos níveis iniciais cerca de 45 minutos depois do final do exercício. Além disso, aumentos induzidos pelo exercício são amplificados em mulheres que correm sem sutiã do que com ele, e esses dois são maiores que aqueles em mulheres que exercitam-se em bicicletas ergonômicas (estacionárias). É sugerido que a movimentação das mamas propriamente ditas estimularia a produção de leite (Guyton e Hall, 1997).

Vasopressina (ADH)
Conhecido também como hormônio antidiurético (ADH), seu principal papel é conservar a água corporal e regular a tonicidade dos líquidos corporais. Sua atuação acontece nos túbulos coletores e dutos renais, que tornam-se muito permeáveis à água, estimulando sua reabsorção e evitando sua perda na urina (Guyton e Hall, 1997). Quando o ADH está presente em quantidades elevadas, ele provoca uma potente constrição das arteríolas de todo o corpo e, com isso, um aumento da pressão arterial.
Ainda, segundo idéias do autor, o efeito do exercício sobre os níveis de ADH é intenso, no sentido em que os aumenta drasticamente. Isso acontece como maneira de aumentar a retenção de líquidos, extremamente em dias mais quentes, e a sua liberação seria feita pela sudorese. O mecanismo de atuação deste hormônio seria, basicamente, o seguinte: a) a atividade muscular provoca a transpiração; b) a perda de suor causa perda de plasma sangüíneo, resultando em hemoconcentração e osmolalidade aumentada; c) a alta osmolalidade estimula o hipotálamo; d) o hipotálamo estimula a neuro-hipófise; e) a neurohipófise libera ADH; f) o ADH atua nos rins, aumentando a permeabilidade à água dos túbulos coletores renais, levando a uma reabsorção aumentada de água. g) o volume plasmático aumenta, e a osmolalidade sangüínea diminui.

Oxitocina
A oxitocina atua sobre as células musculares do útero e das glândulas mamárias, tendo papel importante, embora não fundamental, durante o parto, já que provoca poderosas contrações no útero no final da gestação. Sua função poderia prolongar-se até a evacuação total da placenta (Berne e Levy, 1996). Além disso, ela faz com que o leite seja espremido dos alvéolos para dentro dos dutos, fazendo com que a criança possa alimentar-se por sucção.

REFERÊNCIAS
BERNE, R.M.; LEVY, M.N. Fisiologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.

GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

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