O controle de todas as funções do corpo humano
está relacionado com o sistema nervoso e com o sistema endócrino. A
responsabilidade do sistema nervoso consiste em obter as informações do meio
externo e controlar as atividades corporais, além de realizar a integração
entre essas ações e armazenar essas informações (memória). As respostas aos
estímulos recebidos do ambiente externo, ou interno são controladas de 3 formas
importantes, que são: contração dos músculos esqueléticos do corpo; contração
da musculatura lisa dos órgãos internos; e secreção de hormônios pelas
glândulas endócrinas em todo o corpo. O funcionamento entre a elaboração da
resposta pelo snc (sistema nevoso central) e o início do processo de resposta pelo
órgão-alvo (célula-alvo) é intermediado pelos hormônios. Diante desta
sistemática, considera-se o sistema hormonal outro grande controlador das
funções corporais (Guyton e Hall, 1997).
Para conseguirmos visualizar esse sistema, ilustramos da
seguinte forma:
Ok, mas o que é um hormônio?
É uma substância química secretada por células
específicas (glândulas) para o sangue, ou órgãos e que provocam uma resposta
fisiológica em outras células específicas. É regulador químico, o qual pode
acelerar ou reduzir a velocidade de reações e funções biológicas no corpo
humano. Podem ser aminoácidos, peptídeos, polipeptídeos, protéicos, ou
não-proteicos (Berne e Levy, 1996).
As glândulas podem ser classificadas como:
Endócrinas: são aquelas que não possuem ductos secretores; a forma de
secreção incide diretamente das substâncias para o interior dos espaços
extracelulares que estão ao redor da glândula. A partir disso, os hormônios seguem
para o sangue, de onde serão transportados para a totalidade do organismo (Guyton e Hall, 1997).
Exócrinas: o oposto das endócrinas, estas possuem ductos secretores, responsáveis pelo transporte do
material que deverá ser secretado para fora do organismo. Glândulas exócrinas
como as sudoríparas e as lacrimais secretam
substâncias que não podem ser consideradas hormônios, por não atuarem em
células específicas (Guyton e Hall, 1997).
A partir do conhecimento das classificações das
glândulas, conheceremos agora a hipófise, também chamada de glândula pituitária,
que divide-se em 2 partes: a hipófise anterior
(adeno-hipófise), e a hipófise posterior (neuro-hipófise). Ela localiza-se na base central do cérebro a qual é
extremamente protegida pela calota craniana. Essa glândula é controlada por uma
porção mais superior chamada hipotálamo, a qual secreta hormônios específicos
para estimular a produção de hormônios pela hipófise (Berne e Levy,
1996).
A hipófise anterior, também chamada de glândula mestre, possui
função vital no sistema endócrino por ser a glândula responsável pela secreção
de 6 hormônios importantíssimos que são: hormônio do crescimento, hormônio
folículo estimulante, a adrenocorticotropina, hormônio luteinizante, hormônio
tíreo-estimulante e a prolactina. Já na hipófise posterior, são armazenados e
liberados os hormônios vasopressina (ADH – hormônio antidiurético) e a
oxitocina (Berne e Levy, 1996).
A seguir
estudaremos a funcionalidade de cada um deles e sua influência no exercício
físico.
Hormônio do crescimento (GH)
O hormônio do
crescimento humano, também chamado de somatotropina, é liberado e controlado
por um hormônio hipotalâmico, o GHRH (hormônio liberador do hormônio do
crescimento). Segundo BERNE e LEVY (1996), GUYTON e HALL (1997) suas principais
funções são: aumento de captação de aminoácidos e da síntese protéica pelas
células e redução da quebra das proteínas; acentuação da utilização de lipídios
e diminuição da utilização de glicose para obtenção de energia; estimulação da
reprodução celular (crescimento tecidual); e estimulação do crescimento da
cartilagem e do osso. É sabido que, com o exercício, a liberação de GH é
estimulada. Além disso, a quantidade deste hormônio liberada é tanto maior
quanto mais intenso for o exercício. O mecanismo pelo qual isso ocorre é que o
exercício estimula a produção de opiáceos endógenos, que inibem a produção de
somatostatina pelo fígado, um hormônio que reduz a liberação de GH. Durante o
sono, a secreção de GH também é aumentada, porém, o nível de treinamento não
tem relação com a intensidade desse aumento.
É importante ressaltar
que esse hormônio só pode cumprir a sua função adequadamente quando acompanhada
de uma dieta rica em proteínas (Berne e Levy, 1996). Em crianças, uma
hipersecreção de GH pode provocar gigantismo, enquanto a hipossecreção pode
causar nanismo. Uma criança ativa, portanto, tem mais tendência a atingir uma
altura maior do que outra sedentária, desde que essa vida ativa seja
acompanhada de uma dieta adequada. É, inclusive, aconselhável a crianças que
apresentem nanismo que se estimule-as a dormirem e a exercitarem-se.
O GH é utilizado
freqüentemente como agente ergogênico exógeno, principalmente nos atletas que
praticam modalidades que necessitem mais força, como lutadores e velocistas.
Problemas referentes à sua utilização, por exemplo a acromegalia, que acontece
em adultos com hipersecreção (ou administração exagerada do exógeno), é
caracterizada por um crescimento demasiado dos ossos em espessura, pois na
idade adulta as epífises já fundiram-se com as diáfises ósseas e os ossos não
podem mais crescer em comprimento. Também é atribuída ao uso exagerado do GH a
causa de casos de morte súbita por parada cardíaca em atletas (Berne e Levy, 1996;
Guyton e Hall, 1997).
Hormônio tíreo-estimulante (TSH)
O TSH (hormônio
tíreo-estimulante) controla o grau de absorção de iodo pela glândula tireóide
e, com isso, a secreção de seus hormônios, a tiroxina (T4) e a triodotironina
(T3). A tireóide fica localizada na face anterior da região cervical, no seu
terço médio, próxima à traquéia. Essa glândula pesa aproximadamente 20 g, e sua
atuação é controlada pela ação do TSH (Guyton e Hall, 1997).
De uma maneira geral, o
TSH faz aumentar o metabolismo do indivíduo (Guyton e Hall, 1997), e é
observado, por exemplo, que em climas frios, a taxa de metabolismo basal,
estimulada por níveis aumentados de TSH, aumenta de 15 a 20% acima da normal. O
efeito do exercício sobre a sua liberação é de aumentá-la, embora não se saiba
como esse mecanismo funciona. Apesar de a temperatura corporal aumentar com o
exercício - e sabemos que o frio estimula o aumento do metabolismo corporal
através da secreção de TSH - os níveis deste hormônio sobem também com o
exercício, talvez como meio de o corpo aumentar o seu metabolismo, adaptação necessária
para as maiores necessidades quando o corpo está em atividade (Guyton e Hall,
1997).
Adrenocorticotropina (ACTH)
O ACTH possui a função
de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal
secreção é o cortisol. O exercício estimula a liberação de ACTH. Inclusive
aceita-se que a regulação da liberação deste hormônio se dá com o ritmo
circadiano: um dos maiores estímulos é a transição entre os estados sono-vigília.
A sua liberação é determinada pelo CRH, também conhecido como hormônio de
liberação do ACTH ou fator hipotalâmico de liberação da corticotropina. Os
maiores picos de secreção de todo o dia acontecem cerca de seis horas depois de
a pessoa adormecer. Além disso, vários outros fatores estimulam sua produção,
como aumentos cíclicos naturais, diminuição do cortisol (o “feedback” negativo
deste hormônio), estresse físico, ansiedade, depressão e altos níveis de
acetilcolina. Por outro lado, existem
vários fatores inibitórios, como as encefalinas, os opióides e a somatostatina,
por exemplo (Guyton e Hall, 1997).
O hormônio
folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH)
O FSH é responsável por provocar o crescimento dos folículos e a
produção de estrogênio nos ovários, sendo que, nos homens, ele estimula o
desenvolvimento dos espermatozóides (espermatogênese) dentro dos testículos.
Nas mulheres, baixas taxas de FSH estimulam a produção de estrogênio, enquanto
altas taxas a inibem (Berne e Levy, 1996).
Além do FSH, existe o hormônio luteinizante (LH) que é
responsável por promover a secreção de estrogênio e progesterona, além da
ruptura do folículo, ocasionando a liberação do óvulo, na mulher. Com isso,
fica evidente que esses hormônios têm uma relação clara com o ciclo menstrual.
No homem, o LH causa a secreção de testosterona pelos testículos (Berne e Levy,
1996). Em relação ao exercício, os estudos referentes a alterações em níveis de
liberação de desses hormônios são inconsistentes e são em várias ocasiões
confundidos com a natureza pulsátil desses hormônios. Como o LH é liberado em
intervalos de 90 a 110 minutos, fica difícil separar mudanças induzidas pelo
exercício daquelas causadas por causa da pulsação endógena. Há também confusão
na tentativa de separar a influência de ansiedade, que pode tanto baixar quanto
aumentar os níveis LH.
Segundo BERNE e LEVY (1996), o exercício praticado regularmente,
no entanto, pode levar a aberrações menstruais. Sabe-se que mulheres atletas
têm uma propensão de 10 a 20% a esse tipo de problema, ao passo que, em
não-atletas, esse número baixa para 5%. Embora seja muito difícil precisar os
motivos para isso, um programa de exercício que dure algum tempo (de semanas,
meses ou mais tempo) normalmente vem acompanhado de uma perda de gordura
corporal, e um nível de gordura baixo pode causar amenorréia (ausência de
menstruação) ou oligomenorréia (menstruação em intervalos maiores que o normal).
Prolactina (PRL)
Sua responsabilidade
consiste na estimulação do desenvolvimento das mamas e produção de leite. É
produzida naturalmente e não necessita de estímulo para isso. Sua regulação
funciona através da atuação do fator hipotalâmico inibidor de prolactina, que
diminui a sua secreção. A prolactina (PRL) também inibe a testosterona e
mobiliza os ácidos graxos, mas com os objetivos de, antes da gravidez, promover
a proliferação e a ramificação dos ductos da mama feminina; durante a gravidez,
causa o desenvolvimento dos lóbulos dos alvéolos produtores de leite e, após o
parto, a prolactina estimula a síntese e a secreção de leite (Berne e Levy,
1996).
Com o exercício, os
níveis de PRL se elevam. Como sua meia vida é bastante curta (aproximadamente
10 minutos), seus níveis costumam baixar aos níveis iniciais cerca de 45
minutos depois do final do exercício. Além disso, aumentos induzidos pelo
exercício são amplificados em mulheres que correm sem sutiã do que com ele, e
esses dois são maiores que aqueles em mulheres que exercitam-se em bicicletas
ergonômicas (estacionárias). É sugerido que a movimentação das mamas
propriamente ditas estimularia a produção de leite (Guyton e Hall, 1997).
Vasopressina (ADH)
Conhecido também como
hormônio antidiurético (ADH), seu principal papel é conservar a água corporal e
regular a tonicidade dos líquidos corporais. Sua atuação acontece nos túbulos
coletores e dutos renais, que tornam-se muito permeáveis à água, estimulando sua
reabsorção e evitando sua perda na urina (Guyton e Hall, 1997). Quando o ADH
está presente em quantidades elevadas, ele provoca uma potente constrição das
arteríolas de todo o corpo e, com isso, um aumento da pressão arterial.
Ainda, segundo idéias do
autor, o efeito do exercício sobre os níveis de ADH é intenso, no sentido em
que os aumenta drasticamente. Isso acontece como maneira de aumentar a retenção
de líquidos, extremamente em dias mais quentes, e a sua liberação seria feita
pela sudorese. O mecanismo de atuação deste hormônio seria, basicamente, o
seguinte: a) a atividade muscular provoca a transpiração; b) a perda de suor
causa perda de plasma sangüíneo, resultando em hemoconcentração e osmolalidade
aumentada; c) a alta osmolalidade estimula o hipotálamo; d) o hipotálamo
estimula a neuro-hipófise; e) a neurohipófise libera ADH; f) o ADH atua nos
rins, aumentando a permeabilidade à água dos túbulos coletores renais, levando
a uma reabsorção aumentada de água. g) o volume plasmático aumenta, e a osmolalidade
sangüínea diminui.
Oxitocina
A oxitocina atua sobre
as células musculares do útero e das glândulas mamárias, tendo papel
importante, embora não fundamental, durante o parto, já que provoca poderosas
contrações no útero no final da gestação. Sua função poderia prolongar-se até a
evacuação total da placenta (Berne e Levy, 1996). Além disso, ela faz com que o
leite seja espremido dos alvéolos para dentro dos dutos, fazendo com que a
criança possa alimentar-se por sucção.
REFERÊNCIAS
BERNE, R.M.; LEVY, M.N. Fisiologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1996.
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 9.ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
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