Antes de abordarmos como o
exercício interfere na regulação da pressão arterial (PA), iniciamos abordando
alguns conceitos básicos. Quando o sangue é ejetado do coração, uma onda de
sangue é forçada através da aorta. Como os vasos periféricos não conseguem
realizar o escoamento do sangue na mesma velocidade com que ele é ejetado, ele
é em parte armazenado pela aorta distensível, criando uma espécie de onda de
pressão que se desloca da aorta até os pontos mais distantes da árvore
arterial. O pulso cardíaco é originado pelo estiramento e recuo da parede
arterial durante um ciclo cardíaco. Valores idênticos de frequência cardíaca e
frequência de pulso podem ser esperados em indivíduos saudáveis. A pressão
arterial é a combinação dos efeitos do débito cardíaco (fluxo sanguíneo
arterial por minuto) e da resistência oferecida a esse fluxo na árvore vascular
periférica (McKardle, Katch e Katch, 2011). Tal relação pode ser vista abaixo:
Pressão Arterial (PA) = Débito Cardíaco x
Resistência Periférica Total
Durante a contração
ventricular esquerda, denominada sístole, a pressão mais alta gerada pelo
coração, em indivíduos normotensos, é de 120 mmHg (milímetros de mercúrio).
Esse valor representa a pressão arterial
sistólica, que é uma estimativa do trabalho do coração e da força que o
sangue exerce sobre as paredes arteriais durante a sístole ventricular. Durante
a sístole o coração impulsiona de 70 a 100 ml de sangue para o interior da
aorta. Já durante a diástole, que é a fase de relaxamento do ciclo cardíaco, a
PA tende a cair para valores entre 60 e 80 mmHg. A facilidade com que o sangue
flui dentro das arteríolas para dentro dos vasos capilares, também conhecida
como resistência periférica, é indicada pela pressão arterial sistólica. Para mensuração da pressão arterial
sistólica e diastólica, um dos métodos mais utilizados é o de auscultação, onde é utilizado um
estetoscópio e um esfigmomanômetro. Abaixo segue a tabela de classificação da
PA para adultos:
Classificação
|
PA Sistólica (mmHg)
|
PA Diastólica (mmHg)
|
Normal
|
< 120
|
e < 80
|
Pré-hipertensão
|
120 a 139
|
ou 80 a 89
|
Hipertensão (estágio 1)
|
140 a 159
|
ou 90 a 99
|
Hipertensão (estágio 2)
|
> 160
|
ou > 100
|
De National
Institutes of Health. The Seventh Report of Joint National Committee on
Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. NIH Pub no.03-5233, 2003.
Como
pode ser visto na tabela, quando lidamos com adultos jovens e saudáveis,
podemos esperar pressões próximas de 120 mmHg para sístole e próximas a 80 mmHg
para diástole. Ligeiramente inferior a média aritmética das pressões sistólica
e diastólica temos a pressão arterial
média (PAM), o que ocorre devido ao fato de que o coração permanece em
diástole por mais tempo que em sístole (McKardle, Katch e Katch, 2011). Abaixo
a fórmula para calcular a PAM aproximada:
PAM = PA diastólica + [0,333 (PA
Sistólica - PA Diastólica)]
Relacionando
a pressão arterial ao débito cardíaco
e resistência periférica total temos
as seguintes equações:
Débito cardíaco = PAM / Resistência periférica total
Resistência periférica total = PAM / Débito
cardíaco
Em situação
de exercício vigoroso a resistência ao fluxo sanguíneo diminui consideravelmente,
a pressão sistólica aumenta mais que a diastólica e o débito cardíaco aumenta 6
ou 7 vezes o valor de repouso em um atleta de elite (McKardle, 2011). Quando as
artérias dos indivíduos tornam-se endurecidas devido ao depósito de substâncias
adiposas depositadas nas suas paredes ou devido ao espessamento da camada de
tecido conjuntivo do vaso, a pressão sistólica de repouso pode ultrapassar os
300 mmHg. Isso pode ocorrer também devido a existência de uma resistência
excessiva ao fluxo de sangue periférico em função de uma hiperatividade neural
ou disfunção da atividade renal. Nas condições citadas a pressão diastólica
pode facilmente ultrapassar os 100 mmHg. Esse quadro é denominado de hipertensão, e gera uma sobrecarga do
sistema vascular, podendo gerar lesão dos vasos arteriais, resultando em
arteriosclerose, doença cardíaca, acidente vascular cerebral e insuficiência
renal. O risco de um indivíduo vir a tornar-se hipertenso aumenta com a sua
idade, juntamente com o risco de vida. Para um prognóstico adequado e preciso
do risco de hipertensão, a pressão sistólica elevada é mais confiável que a
pressão diastólica, principalmente em indivíduos de meia-idade (McKardle, Katch
e Katch, 2011).
Alterações
nos valores de pressão estão diretamente relacionados com a prática de
exercícios físicos. Em situações de exercício progressivo a pressão sistólica
sofre um aumento proporcional ao fluxo sanguíneo e ao consumo de oxigênio. Ao
mesmo tempo a pressão diastólica sofre uma pequena queda ou nenhuma alteração. Para
os mesmo níveis de exercício, a realização de atividades com os membros
superiores do corpo produzem uma
elevação na pressão sistólica maior que nas atividades realizadas com os
membros inferiores. A pressão arterial pós exercício atinge valor menos do que
pré exercício, podendo permanecer baixa por até 12 horas após a realização da
atividade. Durante exercício de resistência isométricos, os valores de pressão
sistólica e diastólica aproximam-se do estado hipertensivo, sendo que
exercícios de resistência de alta intensidade representam alto risco para
indivíduos hipertensos ou com doença cardíaca (McKardle, Katch e Katch, 2011).
O suprimento de oxigênio para o miocárdio deve
ser adequado e contínuo, e cerca de 80% desse oxigênio flui através das artérias
coronárias. Quando o fluxo sanguíneo coronariano é comprometido iniciam-se as
dores torácicas (angina); um bloqueio total da artéria coronariana gera o
infarto do miocárdio. Durante o exercício, o aumento do fluxo sanguíneo é o
principal responsável por suprir as necessidades de oxigênio do miocárdio. Para
manter a função do miocárdio, o suprimento energético provém do metabolismo da
glicose, ácidos graxos e lactato circulante, sendo que utilização percentual
varia de acordo com a duração e intensidade do exercício realizado e também com
o nível de treinamento do indivíduo. Para estimarmos a carga do trabalho
realizado pelo miocárdio podemos nos basear no produto frequência cardíaca x pressão arterial sistólica
(McKardle, Katch e
Katch, 2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário